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São Carlos (cidade natal), SP, Brazil
Sou formada em Psicologia pela UFU em 1996, fiz Aprimoramento Profissional em Psicologia Hospitalar pela PUC/Camp em 1998, formação de Educadora Perinatal pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa em 2004, e Curso de Extensão em Preparação Psicológica e Física para a Gestação, Parto, Puerpério e Aleitamento pela UNICAMP em 2006, onde neste mesmo ano, participei da palestra "Dando à luz em liberdade - Parto e Nascimento como Evento Familiar" com a parteira mexicana Naolí Vinaver Lopez. O que é uma doula? Uma mulher experiente que serve (ajuda)outra mulher durante o trabalho de parto e o pós-parto. Fui doula por 18 anos. Sigo agora como psicóloga atendendo em consultório particular na Vila Prado em São Carlos-SP Contato: vaniacrbezerra@yahoo.com.br (16) 99794-3566

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Valéria, Emerson e Pietro – 22/07/2011

Valéria me procurou durante as reuniões do GAPN. Na primeira vez em que eu iria à casa dela não pude ir porque estava doulando, então remarcamos. Na segunda vez cheguei bastante atrasada, mas ainda assim conversamos e começamos a assistir um dos vídeos. A energia do prédio caiu e então fui embora, deixando lá o filme que nem conseguimos tirar do aparelho! Rsrsr


Começo agitado!

Na semana seguinte finalmente conseguimos começar a preparação, e apesar dos atropelos iniciais conseguimos terminá-la a tempo. Mas no dia em que eles iriam à oficina de parto ela me ligou bem cedo, avisando que a bolsa de águas tinha rompido durante a madrugada, e agora estava com contrações de dez em minutos, leves ainda. Neste dia nós tínhamos a oficina com dez casais inscritos, incluindo um que estava vindo de Campinas.  A Tatiana Nagliati estava doulando,  e eu na expectativa de que o TP da Valéria engrenasse a qualquer momento.

Liguei então para a Ana Frê e pedi ajuda. Combinamos que se fosse necessário ela iria doular por algumas horas até que eu terminasse a oficina. Valéria permaneceu com contrações de dez em dez minutos o dia todo. Tudo foi se encaminhando, a moça que a Tatiana estava doulando pariu no finalzinho da tarde e ela conseguiu ir, apesar de muito cansada.

Valéria me ligou exatamente quando estávamos tocando a musica, no final da oficina. Então Tatiana ficou fechando e arrumando tudo sozinha enquanto eu me encaminhei para a casa da Valéria. Fui recebida pelo Emerson dizendo assim:
- “Ainda bem que você chegou logo, a família dela já queria que ela fosse para a maternidade, estão colocando as coisas no carro”...

Subi e encontrei a família assistindo um jogo de futebol, sei lá qual... Valéria sentada no canto da sala, o pai e as irmãs conversando assuntos variados enquanto assistiam tv, a mãe me olhando com cara de poucos amigos. As contrações continuavam muito espaçadas. Muito mesmo, mais de cinco minutos... só tinham ficado mais intensas, causando um pouco mais de desconforto, por isso a família achava que estava na hora de ir para a maternidade. Agora Valéria estava muito calma, relaxada, confiante. Mas não cogitei ir embora, a família não aguentaria.

Emerson ofereceu o quarto do bebê para eu tirar um cochilo, minha cara de cansada devia estar uma coisa! Então aceitei, eles inflaram um colchão, eu me deitei um pouco, enquanto Valéria tentaria cochilar no quarto dela. Mas a família não estava tranquila, eu também não consegui relaxar, me levantei logo. Logo depois o jogo terminou, o pai dela se despediu e voltou para a cidade deles, levando também a irmã. Ambos teriam que trabalhar no dia seguinte.

Um pouco depois a contrações se aproximaram um pouco, ficando de cinco em cinco minutos. Dra Carla ligou perguntando como estavam as coisas. Mais de 24horas de bolsa rota e contrações ainda muito espaçadas. Sugeriu que fossemos para a maternidade. Mesmo não sendo ainda o caso de induzir, ela ficaria mais tranquila com os batimentos cardíacos do bebê sendo monitorados a intervalos de meia hora. Então fomos, bem calmamente, devia ser uma da manhã mais ou menos. A mãe dela ficou no apartamento.



A madrugada passou, o dia amanheceu.

Família ligando pedindo notícias.

Valéria procurando saber se a decoração do quartinho do bebê tinha sido entregue... com contrações muito espaçadas, ela estava longe ainda da partolândia.

Dra Carla passou visita no final da manhã. Mais de 36 horas de bolsa rota e nada das contrações se aproximarem. Então decidiram aceitar a ajuda da ocitocina sintética. Mas na hora de pegar a veia Valéria chorou um pouco. Repetiu várias vezes que detesta ser furada, que não esperava ter que passar por isso...  felizmente não foi difícil pegar a veia e logo as gotinhas começaram a cair.

Em seguida era hora do almoço. Ela conseguiu comer um pouco, seguida pelo Emerson e depois por mim. Tinhamos a expectativa de algumas horas de trabalho pela frente, e era necessário manter a energia.

Mas comer dá um soninho... temos fotos uns dos outros dando lindas pescadas... eu ainda por cima estou sentada na bola de fisioterapia... só faltou estar com a bolsa de água quente nas costas! Rsrsrsr








A tarde passou, a família muito tensa, ligavam seguidamente pedindo notícias. Valéria muito cansada, mas eu e Emersom conseguimos protegê-la do clima pesado que pairava da porta prá fora. Mantínhamos a esperança de que as contrações engrenariam a qualquer momento.

Final da tarde, Dra Carla veio avaliar a situação. Fez um toque, a dilatação estava de 6 para 7cm. No entanto, o nível de tensão beirava o insuportável. Tudo levava a crer que ainda seriam muitas horas até esse bebê nascer, e será que ela conseguiria relaxar para deixar o bebê descer, depois de tantas horas? A dúvida foi mais forte, então a decisão pela cesárea foi tomada. Não sem um sentimento de tristeza, mas naquele momento tínhamos a certeza de que o limite tinha sido atingido. A confiança de todos, incluindo a minha, claro, tinha sido minada pelo clima tenso.

Fiquei com a mãe e a irmã, ajudamos a mudar as coisas de quarto, e ficamos aguardando que Valéria voltasse. O Emerson foi junto, acompanhou tudo, e quando chegou no quarto e mostrou o filminho, o som do chorinho do bebê funcionou como um estouro de comportas, a mãe dela se encolheu no canto do sofá e chorou de soluçar, repetindo “graçasaDeus, graçasaDeus, graçasaDeus”. Chorou um tempão, um choro TÃO sentido, que eu e a irmã da Valéria choramos também! E o Emerson diante de um monte de mulheres chorando, ficou com os olhos cheios de lágrimas... até que uns olhando para os outros começamos a dar risada... e nos juntamos em volta da câmera para ver o filminho novamente.

Depois disso, a tensão se dissipou, a mãe dela me abraçou e pediu para desculpá-la se ela tinha atrapalhado alguma coisa. Não tenho nada que desculpar... estamos mergulhados em uma cultura cesarista, uma cultura em que cirurgias são tratadas como isentas de risco, somos o segundo país em número de cesáreas e de cirurgias plásticas. Acham que dá para simplesmente voltar a confiar no parto natural só porque as melhores pesquisas, a médica e a doula disseram que esse é o melhor caminho? Depois de ter ficado a vida inteira escutando que parto é perigoso... só quem já tem a centelha da confiança na natureza consegue acender esta luz... 

Lembrei de outra moça que acompanhei durante o mesmo período. Quando uma prima dela de outra cidade teve um parto normal mal assistido e o bebê nasceu com problemas e precisou de UTI, a família dela praticamente entrou em pânico e marcou a cesárea para o dia seguinte. Como explicar de uma hora pra outra que o problema não foi o parto e sim a falta de assistência adequada? Impossível... o medo acaba com qualquer possibilidade de entendimento.

Então... eu não tenho nada que desculpar. EU ENTENDO AS PESSOAS QUE TEM MEDO. E não vim nessa vida para obrigar ninguém a ter parto natural. Eu vim para ajudar as pessoas que querem evitar uma cirurgia desnecessária.

Valéria fez o que foi indicado, e seu organismo não respondeu, provavelmente porque ainda não era hora, pois tenho certeza de que o clima tenso não chegou até ela. O Emerson era muito discreto quando saia do quarto para atender o celular tocando, e no período da tarde Valéria já estava com tanto sono que nem percebia ele saindo do quarto. Talvez o Pietro nascesse de madrugada, ou talvez de madrugada se apresentasse um problema que levaria a uma cesárea de emergência... nunca saberemos. Mas sabemos que fizemos o que era possível naquele momento. E temos a certeza de que ele foi beneficiado com as contrações que duraram quase dois dias. Ele recebeu abraços apertados de sua mãe durante bastante tempo antes que o processo fosse interrompido pela cesárea.

Visitei-os na semana seguinte e os encontrei tranquilos, às voltas com a adaptação normal de um casal que tem o primeiro filho. Emerson estava há algumas noites sem dormir direito, pois só conseguia dormir nos momentos em que Valéria estava amamentando. Se o filho estivesse no berço ele estava ao lado, para se certificar de que estava tudo bem. Mas essa fase logo passou e ficaram bem.

Pietro com um ano


A vocês, Valéria e Emerson, minha eterna admiração. Vocês formam uma família muito linda.

Um grande abraço!

Vânia Doula.
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"O Nascimento do Pietro é muito mais do que uma lembrança. É a sensação de um momento que transformou a minha vida, as nossas vidas. Olho muito pra ele com ternura, emoções que não sei classificar totalmente, mais sei que fico me questionando como é possível gerar um ser tão encantador"

Pietro te amoooooo um tantãoooooooo assim..........



Ass. Mamãe

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